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Centro de São Paulo

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BERNARDO MARTINS MEIRA & CA.

armazem de molhados e generos da terra fabrica de licores

rua do commercio, 29
rua são bento, 33/35

história do comércio centro de são paulo

atualizado em: 18 de julho de 2019

 

"BERNARDO MARTINS MEIRA & Ca., participam á seus freguezes, que de ora em diante continúa á ter a sua caza muito bem sortida de bebidas.

[Correio Paulistano, Anno I, Número 7: 4 de julho de 1854]

 

[Correio Paulistano, Anno I, Número 7: 4 de julho de 1854]

 

O anúncio de 1854 não menciona o endereço do estabelecimento. No Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Provincia de S.Paulo de 1857 (com os dados do ano de 1856), consta Bernardo Martins Meira, como armazem de molhados e generos da terra e fábrica e distillações de licores etc., localizado na Rua do Commercio.

O número do estabelecimento na Rua do Commercio aparece nas Atas da Câmara da Cidade de São Paulo – de 8 de outubro de 1855:

"Requerimento de Jorge Gaimer, declarando que possue uma Fabrica de licores na rua Alegre n. 24, empregando como materias primas, agua, aguardente, assucar, e essência de roza, canella, cravo, sendo as vazilhas alambiques de cobre. Forão tomadas as declarações no livro competente. Dito de Bernardo Martins Meira, fazendo iguaes declarações, quanto a Fabrica de licores, genebra, e mais bebidas espirituosas, que possue na rua do Comercio, n. 29. Teve igual despacho."

[Atas da Câmara da Cidade de São Paulo – 1855 – Publicação da Subdivisão de Documentação Histórica, Vol. XLI, Departamento de Cultura, Divisão de Documentação Histórica e Social, 1940, p. 155, 37ª. Sessão Ordinária aos 8 de outubro de 1855]

 

[Correio Paulistano, Anno XV, Número 3534: 14 de março de 1868]

 

[Correio Paulistano, Anno XVI, Número 4047: 19 de dezembro de 1869]

 

[Correio Paulistano, Anno XVII, Número 4110: 11 de março de 1870]

 

[Correio Paulistano, Anno XIX, Número 4820: 22 de agosto de 1872]

 

Na mesma data da publicação do anúncio acima ("Pechincha"), Meire informa ao público no mesmo jornal que Manoel Pereira Cardoso da Silva não era mais seu funcionário:

[Correio Paulistano, n.4802, 22 de agosto de 1872]

 

Segundo as pesquisas de Maria Luiza Ferreira de Oliveira, Bernardo Martins Meira era português, sócio-fundador da Sociedade de Beneficência Portuguesa. No inventário de 1876, o seus estabelecimento nesse período estava localizado na Rua de São Bento, 33/35 (o mesmo endereço mencionado nos anúncios acima, publicados em 1868, 1869, 1870 e 1872), em uma casa térrea, com quatro portas:

"Em 1876, possuía um armazém onde destilava bebidas: tinha dois alambiques, tachos de cobre, máquina de arrolhar, prensa com mesa. Lá se encontravam produtos sofisticados e simples, como deiscentas garrfas com bebidas da terra, ao lado de cognac francês, cerveja hamburguesa, genebra holandesa, absinto, vinho do Porto, rum da Jamaica, licores, vinho Bordeaus, vinho Southerne. Além de bebidas alcoólicas, tinha arnica, chá verde, latas de sardinha, anis estrelado, cravo da índica, arnica em flor, arnica em rama, lírio florentino em pó, fogos chineses, água de flore de laranja, vinagre, cálices para champagne, cálices para vinho, copinhos, compoteiras, carvão, sabão, vassouras, peneiras sortidas, cem cocos da Bahia etc. O forte da casa eram as bebidas, mas também especiarias, além de alguns itens básicos como vassouras, sabão, carvão, sardinhas."

[OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira. Entre a casa e o armazém: relações sociais e experiência da urbanização. São Paulo, 1850-1900. São Paulo: Alameda, 2005, p.275-276.]

 

Em "Alegrias Engarrafadas: os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XX e começo do século XX", tese de Daisy de Camargo (Unesp, 2010), adiciona informações sobre as bebidas encontradas (e consequentemente, uma análise sobre sua clientela):

"Essa relação de bens permite imaginar um ambiente onde garrafas e pipas se misturam: capilé, vinho do porto, vinho branco ordinário, tinto e de laranja, Southerne e Bordeaux, verde (vinho jovem muito apreciado no norte de Portugal), rum da Jamaica, espírito de vinho, absinto, genebra holandesa, bíter, conhaque Jules Rubim, cervejas Christiana, Estrella, Hamburguesa, licor Yapana, bebida da terra.

Clientela bastante diversificada devia ser a desse senhor Bernardo Martins Meira: de vinho branco ordinário para beber e vender a miúdo aos menos abastados, até o vinho do porto embravecido e fortificado com álcool de uva; o absinto – destilado fosforescente e fabricante de sonhos feito a partir de raízes de angélica machucadas e que transforma o açúcar em esponja rasgada quando o atravessa –; conhaque (cuja queima faz o ponche), vinho Bordeaux e Southerne, também napoleônicos, todos para saciedade de luxo de bolsos e ritos sofisticados.

Do conhaque e do vinho fortificado não sei, mas dizem que um dos primeiros sintomas observados com o uso do absinto é a falta de pudor. Ainda constam nas compras de Meira botijas de Coraçau, a famosa aguardente de Paraty, uma das mais conceituadas do Brasil na época, garrafa de vinho Liberdade. Para acompanhar apenas muitas latas de sardinha e mais nada. Ah! E para proteger todo esse patrimônio, uma espingarda fina Laposte, de dois canos, com polverinho e chumbeiro, que o mundo lá fora já não estava para brincadeiras."

[CAMARGO, Daisy. Alegrias Engarrafadas: os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XX e começo do século XX. Assis: Unesp, 2010]

 

Maria Luiza Ferreira de Oliveira, ao analisar o inventário de Bernardo Martins Meira, além dos valores, ao descrever seus bens, nos dá uma pequena ideia de sua residência: segundo a autora, ele e sua esposa, Dona Anna Joaquina, não possuiam bens de raiz, eu seja, não eram proprietários da edificação onde moravam, o casal optou por montar o négocio e viver em casa alugada (aluguel de 1000$000 mensais).

Ao comparar com os bens de outros inventários, pode notar que seus móveis eram de uma padrão melhor que a média de outros donos de armazéns. Os móveis perfaziam um valor total de 575$800 (também estavam inclusos nesse valor, a prensa e a máquina de arrolhar, não somente os móveis da residência); entre eles o destaque era uma secretária com 21 gavetas, avaliada em cerca de 100$000, porém, o item estava penhorado por execução do Dr. Alfredo Ellis.

O casal mantinha uma cozinheira (ao custo de 25$000 mensais) e um "camarada" (30$000 por mês), até o ano de 1875, posuíam escravos e no armazém, constava que tinha dois funcionários - em 1874, no obituário do Correio Paulistano, é mencionado que Joánne (ou Joánna), de 46 anos, era escrava de Meira e faleceu de problemas cardíacos [Correio Paulistano, n.5329, 23 de junho de 1874].

Infelizmente, após a sua morte (24 de novembro de 1875), sem conseguir receber muitas das contas abertas, seus filhos e sua viúva acabram sem nenhuma herança e deixaram a casa/estabelecimento da Rua São Bento, segundo Oliveira:

"Dar crédito era uma prática cotidiana no armazém de Bernardo Meira. E parece que talvez tenha sido o descontrole do crédito a causa da falência da família."

[OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira. Entre a casa e o armazém: relações sociais e experiência da urbanização. São Paulo, 1850-1900. São Paulo: Alameda, 2005, p.277.]

 

Um exemplo, publicado no Correio Paulistano de 1865, mencionando Bernardo Meira como "credor":



[Correio Paulistano, n.2622, 18 de fevereiro de 1865]

 

OBSERVAÇÃO: Um trabalho muito interessante sobre o estabelecimento de Bernardo Martins Meira, na São Paulo do século XIX é "Alegrias Engarrafadas: os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XX e começo do século XX", tese de Daisy de Camargo.

[Outros estabelecimentos comerciais que fizeram parte da História do Centro de São Paulo]

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